DES ISLADO

ESTIVE COMIGO NO EXÍLIO
VOLTEI ATROZ NA ALVORADA
CAMINHO ANISTIADO E SOZINHO
EM MEIO A ROSTOS NA ESTRADA
PERGUNTO MEU NOME
...NA ALAMEDA VAZIA, NINGUÉM,
NINGUÉM CONHECE O ROSTO
DO EXÍLIO,
PROCURAM NO PRÓPRIO
CÁRCERE, SUAS PRÓPRIAS ILHAS,
UM ROSTO SEM NOME QUE SE CHAME
ALEGRIA, PÉS SEM CORRENTES QUE JAZ
SEM DESTINO CAMINHEM NA ESCOLHA
DO PRÓPRIO DELÍRIO

Frederico Almada

Logos

PALAVRAS NÃO SÃO TOLAS,

TOLOS SÃO QUEM AS ESCREVE

SEM CONHECER SEU MISTÉRIO,

NÃO IMPORTA DE QUEM É

O DIÁRIO, TODA PALAVRA

QUER SER LIDA, CANTADA

CORRIGIDA

PALAVRAS SÃO  SÓ PALAVRAS...

PALAVRA É EXPRESSÃO, TERMO,

 VOCÁBULO, VERBO, VIBRAÇÃO

JESUS CRISTO, SUTRA, BUDA, MANTRA,

 CANÇÃO

PALAVRAS SÃO MAIS QUE PALAVRAS

PALAVRAS EM BORDÃO

NA MENTE

NO PAPEL, NA TELA...

PALAVRAS SÃO NOMES

PALAVRA ILUMINA QUAL  LANTERNA

PALAVRAS NÃO SÃO VIDA

PALAVRAS DÃO VIDA,

 SOPRO,

ENDOSSO, INFINITO,

PALAVRA DE ENCANTO

A PALAVRA “BONITO”

 PALVRAS QUE NOS DEIXAM ASSIM

 “SEM PALAVRAS”

SEM  PÁ, LAVRAS  DA IDÉIA, PLANTANDAS NO VAZIO

FREDERICO ALMADA

Fugidío

VOU AO CENTRO DE MIM

BUSCAR ARMADILHAS

FUGIR PRA ILHAS atlantidas

EM

PENSAMENTOS

CRIAR INTRIGAS NAS

HORAS FUGIDIAS PRA

NÃO TER QUE ESQUECER

NÃO PERDER NO HORIZONTE

TUA LINHA CURVA

TUA VOZ ROUCA DE CHUVA

MEU ÂMAGO NO ENTARDECER

VOU FUGIR PRA FORA DE MIM

CRIAR DESTINOS INFINDOS

POEMAS CLAROS, TÃO LINDOS

PLANTANDO GARDÊNIAS NO

ANOITECER...

VOU PRA DENTRO DOS BRAÇOS

TRANQUILOS E SERENOS,

TEUS BRAÇOS NOS MEUS MORENOS

ASSIM AO CENTRO DE NOSSO SER...

Frederico Almada

Permuta

A LUA MAIS QUE O SOL,

 PADROEIRA DE AMANTES E DRAGÕES,

VEM RASGAR O VÉU DA NOITE,

 ILUMINANDO O FOGO DAS PAIXÕES...

A LÁGRIMA E O MAR,

 MOLHAM A SUPERFÍCIE DE UM SER

OCULTANDO EM SI MISTÉRIOS.

REVELANDO NA FACE O QUERER...

TENTE AGORA TOCAR UM GRÃO DE AREIA,

 TENTE, TENTE SE MOVER SEM SUA SOMBRA...

 O QUE LA DENTRO  NÃO SE PODE TOCAR

 SE ACREDITAR QUE A VIDA É PEQUENA

O VENTO E O AMOR,

SEMEIAM FLORES, ABRAÇAM CORAÇÕES,

 LEVAM MENSAGENS PELO TEMPO

 MOVEM LÁBIOS TERNOS COM CANÇÕES

EU VI O TEU OLHAR,

 MERGULHAR NA ALMA SEM QUERER

 QUANDO TOQUEI TUAS MÃOS TÃO RARAS

 MÃOS QUE BRILHAM NO AMANHECER

Frederico Almada 

Eu Quixote

SERVE-TE DE MINHA CALMA

REBUSCA LAMPEJOS

SINCEROS

UM BREVE OLHAR DE ATÉ LOGO

CORTEJA COM UM DOM

UM HONESTO QUIXOTE

COM ARMADURA DE VENTO

E UMA LANÇA DE JASMIN

BUSCA EM MIM O ALENTO

SERVE-TE DE MINHA LOUCURA

QUE SEJAM MINHAS ALUCINAÇÕES

SUA TEZ VAPOROSA EM SETIM

RETRATADA EM DISPARATE

FEITO GOYA JÁ DESTARTE

ALIMENTA-TE EM MEU SILÊNCIO

SERVE-TE FAMINTA SENDO EU

ALIMENTO SERENO

HOLOCAUSTO SINCERO

SACRÍFICIO TERRENO, SEM

CATAVENTOS NEM VENENO, SORVE

MINHA SUBSTÂNCIA SEM PRESSA

E EU ATENTO A TI, SEM SER HERÓI

ENTREGO-ME POR INTEIRO

Frederico Almada

Reflexão sobre uma reflexão

VOLTAR NÃO É ANDAR PARA TRAZ

REVER É OPINIÃO NOVA

AMAR É PRÁTICA, NÃO SENTIMENTO

 PERDOAR NÃO É ESQUECER...

SENTIR NOVO É CONTINUAR

VIVER SONHO É DESPERTAR

CRER DE NOVO  É ABRIR

MÃO, PRA RECEBER...

NO MEIO DO CAMINHO,

SÓ NO MEIO DO CAMINHO

QUE  SE  PERCEBE QUE A DISTÂNCIA

DE TODO VIVER É ÚNICO.

 VIDAS QUE SE ENCONTRAM

NA METADE DE SI, NÃO TÊM TAMANHO,

SÃO SEMPRE  NOVO DIA, NOVO POR

SE ANULAR TODO ESPAÇO PERCORRIDO

NOVO, DE NOVO, OUTRA VEZ

Frederico Almada

Mortebundo

SE EU MORRER AMANHÃ

NÃO TENHA SIDO HOJE EM VÃO,

SE EU ME ESQUECER DE ONTEM,

QUE LEVE MEU CORAÇÃO PRA SEMPRE

TUDO QUE TIVE

SE EU VIVER AMANHÃ

QUE HOJE EU MORRA SEM PRESSA

E SE DE ONTEM VIVER NO AGORA

TUDO QUE SOU

QUE ME AME O AMOR

INFINITA E ETERNAMENTE

                  Frederico Almada

Sutra

É MENTIRA, NÃO FUI EU

NÃO FORAM MINHAS MÃOS

EU NÃO AS TENHO

NÃO ME INCRIMINEM

FOI O BUDA

NÃO FORAM MEUS OLHOS

EU NADA VEJO

FORAM OS OLHOS DO

BUDA NÃO OS MEUS

NÃO HÁ CORPO CRIMINOSO

SÓ VONTADES DECLARADAS

NÃO HÁ PÉS CORRENDO

EU NÃO FUI LÁ,

FOI O BUDA

EU JÁ DISSE

É MENTIRA MEU CRIME

FOI O BUDA TRISTE,

BUDA NÃO EXISTE

EU O MATEI SEM DEFESA

O BUDA ERA EU

Frederico Almada

Ser Nada

NÃO SOU POETA

APENAS CONHEÇO

PALAVRAS,

SOU SINCERO

QUANDO DIGO,

NÃO CONHEÇO

PALAVRA ALGUMA

SOU POETA

NÃO SOU PALAVRA

ALGUMA

APENAS CONHEÇO

POETAS

SOU SINCERO,

NÃO CONHEÇO

POETA ALGUM

SOU SÓ UMA PALAVRA

NÃO SOU SINCERO

NÃO CONHEÇO

PALAVRAS OU POETAS

DIGO SÓ O QUE CONHEÇO

QUANDO QUERO.

Frederico Almada

Padígma

Risco o fósforo,

Acendo o algodão branco,

contemplo a fluidez ígnea

no silêncio que se confunde

com meus pensamentos...

Escorre a lágrima branca,

e a sombra viva do pássaro

que das mãos emana, entretém a

memória viva de minha criança

Percorre o tempo, decresce a cera

em fragmento... outra sombra, brilho

intenso, relembram o sopro feliz e

a canção amistosa de meu crescimento

A forma derretida denuncia, como que

a criança exaurida fecha os olhos,

a chama vencida se apaga em silêncio.

Frederico Almada

Labirinto

NO LABIRINTO,

NO LAR HABITO

CABEÇA DE HOMEM

CORPO DE TOLO,

PERDIDO EM PAREDE

SEM TETO

TEU CÉREBRO INDISCRETO

LAR BONITO – não visto –

REENTRÂNCIAS E CURVAS

UM HEMISFÉRIO ANIMAL

OUTRO IMORTAL

LABIO TINTO – revela –

MINA DE PENSAMENTO

MINOS ILHADO EM TORMENTO,

NO FIO DE LÃ DE TESEU

LIBERTA O TOURO EM TESÃO

PERCORRE OS MEANDROS

“HÓRMOS’ DO GREGO:

- Que faz ligação -

DESEJO DOS DEUSES

AÇÃO DOS HOMENS

LÊ BONITO –todos os sentidos-

LIBERA O FOGO ÁUREO

RELÂMPAGO ETÉREO,

SINAPSE CELESTE

ILUMINA O LABIRINTO

E TE TORNA divino!

Fredeerico Almada

Fado Meu

FADO É SINA, É TEMPO...

FADO É DESTINO AO VENTO

FADO É CANÇÃO, UM BLUES

UMA VOZ NOTURNA QUE VESTE

 AZUL

FADO É UMA ESPERA CINZENTA

UM DIA DE CHUVA, TORMENTA

FADO É A LUZ DO TEJO EM

NOITE DE LUA CHEIA

O BARCO

ESCONDIDO NO CAIS DA RIBEIRA

FADO É SORTE SEM TINO

É A VOZ DE AMÁLIA

CANTANDO TRISTE HINO

CAUDAL IMPETUOSO DA EMOÇÃO

SENTIDA

FADO, DESATINO, VIDA...

CANÇÃO NA LUSITÂNIA

PELAS VIELAS DE ALFAMA

QUE ASSAZ IMORTALIZA

VOZES TANTAS QUE COM

O TRISTE NOS ENCANTA...

FADO, PEDRA CAINDO SEM

IMPEDIMENTO

CONDUTA SIMPLES DA INÉRCIA

DE OLHOS VOLTADOS PARA O RIO

NO DESEJO DO ESQUECIMENTO

Frederico Almada

Caleana

NO PRINCÍPIO ERA O VERBO

E O VERBO TINHA NOME

PRETÉRITO...

NÃO HÁ MAIS VERBO, APENAS PRESENTE

SÓ SEI NO AGORA DO QUE NÃO HÁ MAIS

DAQUILO QUE NÃO EXISTE...

NÃO EXISTE AMOR DISTANTE,

NÃO EXISTE AMOR AUSENTE,

O SENTIR DE QUEM VIVE, É SEMPRE

ASSIM, VIVO, PRESENTE.-  sem verborragia

AMO-TE ASSIM, ALÉM DAS LONGAS

IDAS, ALÉM DE TUA IMAGEM SÓ,

SENTIDA OU ESTAMPADA EM MINHA

MENTE. – sem ausência pretendida

VÔO CEGO ACOMPANHANDO TUA VOZ

EM MINHA MEMÓRIA (...)

MINHAS MÃOS, COMO ASAS, FLUTUAM ENTRE

OS CONTORNOS DE TEU SORRISO – te preciso -

AMO-TE NO CREPÚSCULO, CONTORNO-TE

AMO-TE SEM PRETENDERTER-TE, TENHO-TE

SEM FLER-TE,

FICA E AMANHECES EM MIM, NOVAMENTE – como nunca -

NÃO EXISTE SORRISO VAZIO,

NÃO EXISTE TOQUE INOCENTE...-mesmo sendo puro-

O QUE PREENCHES COM TEU BRILHO

É CALOR VIVO, SENTIDO, CRESCENTE

AMA-ME, NO REENCONTRO, MESMO TARDIO,

QUE PAREÇA EM TUA MENTE.

AMA-ME, RECOLHE TUAS ASAS SOBRE

MEU PEITO, PRETENDATERMETERNAMENTE...

NO CREPÚSCULO, durmamos, AMALGAMADOS,

SEM A ESPERA DE NÃO DESPERTAR AMANHÃ

OUTRA VEZ

Frederico Almada

Ermida

TE  REENCONTRO

 NA ERMIDA,

NA TARDE DE PRIMAVERA.

QUANDO O SOL,

 POSTO ENTRE AS FOLHAS E TEU ROSTO

FORMAREM A IMAGEM,

OUTRA VEZ, DO REENCONTRO,

DO FIM DA ESPERA...

OUTRA VEZ, ASSIM POSTO,

O MESMO PERFUME FUTURO,

QUE ME RECORDA CADA PASSO,

CADA FOLHA DE HERA

SUBINDO PELAS PEDRAS,

CADA FOLHA ESCRITA DAS ERAS.

NO LIVRO DA VIDA,

OUTRA VEZ TE REENCONTRO.

PORÉM JÁ NÃO MAIS,

NÃO MAIS OUTRA ESPERA.

NA ERMIDA, AO SOM DAS ÁGUAS,

GOTEJAM DAS FOLHAS,

LÁGRIMAS FELIZES,

BROTAM DOS BOTÕES SORRISOS,

O CALOR QUE SE PERDE

DO ABRAÇO SEM PREÇO, SOMENTE

NO APREÇO SINCERO,

CRIAM-SE NOVAS RAIZES.

SOMENTE CERTEZAS AGORA,

SEM ESPAÇO ENTRE OS CORPOS,

LÁGRIMA FUNDIDA AO MAR,

CORREMOS JUNTOS,

SEM PRESSA, AO MESMO SOM

NA PLACIDA ERMIDA,

SOMENTE O REENCONTRO

 E EM MEU ROSTO, A LUZ QUE ENTRE AS FOLHAS,

REFLETE TEU CONTORNO,

O FIM DA ESPERA. O DOCE REENCONTRO

Frederico Almada

Chimera

EU VI A CHIMERA,

TODOS VIRAM, IGNORANDO...

MAS NÃO TEMI SEU SOPRO

ERA MEU AR

SEGUI SEGURO E FALSO

E ELA PARECEU

DESVANECER

GANHEI UMA ESPADA

E AGORA GRITO:

MEU REINO, MEU REINO

POR UM DRAGÃO

QUIS EU SER ARGONAUTA (EM VÃO)

ANTES FOSSE O GRITO

DA CHIMERA EM MEU PEITO

QUE MINHA ESPADA

NÃO PODE MATAR...

UM SOPRO SEM AR,

DA ESPADA SEM FIO...

QUE O DRAGÃO QUE DESEJO

ANIQUILAR, NÃO FOSSE

EU IGNORANTE, FOSSE

A CHIMERA EM MEU SER

QUE A ESPADA COMO

CETRO A LIBERTASSE...

O GRITO INAUDITO

EM MEU PEITO

Frederico Almada

UNA

FECHA AS JANELAS SOBRE O CASTANHO

DOUTRINA O SOM EM LEVE GEMIDO

CONFINA EM DEFINITIVO COM TEUS

BRAÇOS MEU SER IMPERFEITO

Frederico Almada

Adamus

Antes de ter nome

Adão era pensamento.

Era um nada que flutua,

ou de Deus um fragmento?

Permeia sutil olhar

n'alma nua em desencanto

frente ao espelho envergonhada

qual criança sem brinquedo

Triste engano, inocente armadilha

pomo estranho envenenado

da costela que (eu) queria.

Frederico Almada

Arbóreo

Nos penso, quando plenos, como árvores.

Braços abertos, mil braços embaraçados,

grávidos mesmo de frutos e folhas.

Plenos sem máscaras, só casca

totalmente livres e enraizados,

ancorados...

Árvores que cantam todas tardes

e manhãs. Cantamos plenos

como pássaros serenos de árvores

que somos, evocando sentidos

de quem nos come o fruto

e sob nossa sombra vem

se abrigar.

Frederico Almada

INSANIDADE

EU SEI COMO SE FICA LOUCO,

CONHEÇO UM CAMINHO SEGURO...

                                                                   É ASSIM, EM TUDO QUE SE VÊ...

PEQUENAS COISAS, DETALHES SINGELOS, ATÉ PUROS

                                   AQUELA PARTE DA MÚSICA QUE SE REPETE

            EM TODO LUGAR, A MESMA MÚSICA, A MESMA NOTA

    É ISSO, TUDO COMEÇA A SE REPETIR, O INSISTENTE NÚMERO 15

E AQUELA CARTA “0” DO TARÔ

                                              OLHAM-ME COM OLHARES ENORMES

AZUIS, CINZAS, NEGROS... DESCONFIADOS, SABEM DE ALGUM                 ]SEGREDO MEU QUE DESCONHEÇO

COCHICHAM COMPLÔS... TODOS, TODOS...

                                   CONHEÇO UM CAMINHO SEGURO

   NELE NÃO HÁ PESADELOS, ESTOU SEMPRE ACORDADO, SEMPRE, SEMPRE, SEMPRE E SEMPRE...

Frederico Almada